segunda-feira, 17 de novembro de 2014

PECADO

Silvino Neto 17/11/2014


Mario Sergio Cortella em seu livro “Não espere pelo epitáfio” diz: “Estes são tempos de discutir, de novo, o recorrente tema do obsceno. E, conexo a ele, o impudico, o impuro, o imundo, o indecoroso, o pecado, o lascivo, o libidinoso, o pornográfico e (por que não?) a culpa.”

Este assunto sempre esteve diante de seu tempo sobre os olhares de censura ao que for considerado imoral. Mas onde estão às limitações sobre o lícito, o descente? Na esfera religiosa onde se fundamenta a grande base da moralidade ocidental, no cânon Bíblico nas cartas paulinas apresenta a seguinte afirmação: “Tudo me é lícito, mas nem tudo convém...”

Aliás o Apóstolo Paulo e mais tarde Agostinho são os fundadores da ideologia sobre a concepção de pecado e pecado original. O próprio Cristo não se atém a fundamentação do que seria pecado, os evangelhos sinóticos não nos dizem nada sobre o posicionamento de Jesus Cristo sobre tal assunto.

"Fim dos tempos, arrependimento diante do iminente juízo fina, pureza, culto, templo: estes são alguns dos elementos constitutivos culturais com os quais João Batista e Jesus de Nazaré teriam elaborado suas ideias a respeito de pecado e arrependimento. Mas os evangelhos complicam a visão que temos sobre a visão deles a respeito desta questão..." (FREDRIKSEN, P.16)

Mas o que é lícito e o que não é lícito? Quem determina este limite, você, as instituições religiosas, os governantes, a escola?

A ação de um personagem marcante do primeiro século da era cristã, traz uma reflexão desta prerrogativa, pois apresenta um Cristo indo na contra mão do que era lícito pois de fato apresenta o convinha realizar. Podemos dizer que “jurisprudência” apresentada por Jesus é contrária à lei de sua época pela forma com que ele as interpretava. Como consequência foi sendo denunciado pelo escândalo, pela “imoralidade” de ações e palavras. Certamente em seu tempo ele era obsceno. Como se sentia bem e livre por ser imoral.

Certamente o conceito de pecado e moralidade de Jesus de Nazaré se baseia na cultura e religião judaica. Um exemplo seria o quarto mandamento que consiste em guarda o sábado; os judeus guardavam o sábado e não realizavam qualquer ação neste período.
Porém a leitura feita por Jesus Nazaré em seu tempo derruba tal prerrogativa, pois ele realiza cura no sábado.

Diante da determinação da religião judaica em guardar o sábado, Jesus de Nazaré traz uma nova reflexão sobre o assunto e faz uma releitura de tal dogma religioso. Tudo será lícito quando se buscar tonar a vida do outro melhor, tudo é lícito quando conscientemente nossas ações responsáveis geram bem estar em nós e no outro sem trazer qualquer dano.

Será que esta padronização de pecado, este dogmatismo, esta ideologia tem promovido bem estar ou tem causado mais conflitos internos, tem reprimido mais o indivíduo, tem o controlado mais, tem gerado intolerância?

Há, “imoral é a pobreza, indecente é a fome, indecoroso é o salário”, pornográfico é a intolerância religiosa, impuro é o julgamento, imundo é aprisionar desejos e sonhos, pecado é calar a esperança por viver resignado a uma espera sem ação. 
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FREDRIKSEN, Paula. Pecado: a história primitiva de uma ideia; Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

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